Resumo: Artigo 35883
Um brinquedo sob o enfoque das sociotécnicas (5,14,59,76,86, 87)
Maria de Fatima Queiroz e Melo, Universidade Federal de São João del Rei, Brazil.
Apresentação: Thursday, May 29, 2008 1:15PM - 1:45PM sala 211 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 5 - Chair: Márcia Teixeira
Abstract.
Um brinquedo sob o enfoque das Sociotécnicas (5, 14, 59, 76, 86, 87) A ciência, a tecnologia e a educação convergem, neste trabalho, para o estudo de um brinquedo sob o enfoque das sociotécnicas, onde buscamos mapear o traçado histórico de um objeto que, casual ou intencionalmente, o homem fez subir aos céus, explorando as forças do vento, tendo um papel importante ligado a toda a proto-história das conquistas do espaço aéreo pelo homem. Segundo Crouch (2003), a pipa foi usada para quase tudo, da pesca à sinalização, servindo a uma variedade de funções e constituindo, desde tempos imemoriais, o único engenho aerodinâmico capaz de manter-se no ar por tempo significativo, capacitando pesquisadores de outras épocas a fazer testes com estruturas voadoras, desenhar novos modelos de asas e controlar diversos sistemas de vôo de forma coordenada. Para Latour (2001), os fatos que marcam a história da construção de um objeto trazem articulações insuspeitadas que não dependem somente da eficiência dos engenheiros sobre a matéria, mas, antes e principalmente, de uma parceria feita nos coletivos. Esta associação de elementos permite a emergência de atores híbridos, inaugurando relações antes inexistentes que transformam a idéia de artefato numa mistura de elementos muito heterogêneos, trazendo à baila uma história que é o próprio labirinto de multiplicidades. Verificamos que a pipa, ao se deslocar pelas redes que garantiram a sua manutenção ao longo do tempo, passou de objeto sagrado de rituais ancestrais a um objeto de usos e costumes que foi apropriado por grupos humanos em diferentes áreas do planeta, chegando, contemporaneamente, à condição de brinquedo ou de engenho capaz de dar propulsão a algumas práticas esportivas, numa rede que se diferenciou das demais num movimento de tradução cuja escala está constantemente variando do local ao global e vive-versa- , como é característica das sociotécnicas. Pelo Princípio de Simetria Generalizada, instaurado por Latour e Callon (Dosse, 2003), as sociotécnicas, enquanto misturas de materialidade e socialidade (Law e Mol, 1995), impõem a introdução dos objetos no campo de investigação das ciências humanas, sendo inseparáveis do tecido social do qual fazem parte, nas suas etapas de produção, apropriação e difusão. Nas relações enquadradas (Latour, 1994), típicas dos humanos, os objetos são mediadores dos nossos contatos com o mundo, multiplicando as nossas possibilidades de ação. A mediação sociotécnica, segundo Latour (2001), assume alguns significados que tentaremos aqui examinar, avaliando a sua pertinência para o caso da pipa: interferência (interferindo e tornando possível atingir um objetivo), composição (compondo com outros humanos e não humanos em subprogramas que conjugam lógicas diversas), obscurecimento reversível (desaparecendo pela eficácia ou tornando-se foco em caso de pane), e delegação (transpondo a fronteira entre signo e coisas, recebendo a delegação de ações e mensagens, desdobrando a nossa presença/ausência) são ações que os objetos podem desempenhar simultaneamente ou alternadamente. Analisando a pipa à luz dos quatro significados de mediação sociotécnica apontados por Latour, podemos demonstrar como as estratégias de construir e brincar com a pipa são, ainda hoje, mobilizadoras de ações que produzem impacto significativo enquanto lugar de aprendizagens e destrezas diversas tecidas informalmente nas trocas intergeracionais ou entre pares, estabelecida com todos os elementos que compõem o entorno da brincadeira.